quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O dualismo humano nos pactos de ordem profana


Seguindo o post do Tadeu, pretendo dar sequência a observações acerca dos filmes (e referências em geral) que temos usado na nossa pesquisa sobre do tema "relações faústicas". O texto a seguir é uma reflexão sobre o dualismo humano nos pactos de ordem profana.

É notável no cinema de Murnau um interesse pelos dilemas humanos de ordem moral. Em Tabu, há o amor puro em oposição ao código repressor ilusório. Em Aurora, opõe o natureza e civilização quando o casamento da protagonista, que vive no campo com seu marido, é ameaçado por uma mulher urbana, que desperta no homem desejo pela agitação da cidade. Em Fausto, é o amor verdadeiro que o salva da perdição eterna. Logo, é notável também o "amor" como vórtice no trabalho do cineasta. As tramas construídas por Murnau se movimentam em espiral, seus personagens são pressionados por situações de dualismo, até por fim serem libertos pelo "amor". Mas isso não necessariamente significa que o final seja feliz.

Em Hellraiser, podemos encontrar também alguns dualismos. A protagonista Julia, que de certa forma também pactua com seu antigo amante, não deseja matar o marido, embora seja apaixonada por Larry. Poderiamos aí opor dois sentimentos de maneira bastante atual: o amor da união eterna x a paixão arrebatadora. Já houve uma chance para Júlia optar pelos dois, e ela escolheu casar-se com um homem que lhe daria uma vida "direita". No momento em que Frank retorna, não seria o momento de reverter esta escolha?

Já Frank, que pactua com os cenobitas, parece ser um homem mais decidido, o mal carater que não titubeia diante das situações. Frank, precisamente na situação em que se encontra logo no início do filme, recriando seu corpo, está mais próximo da "fera", embora ainda possua ligação com a humanidade devido ao uso da razão. Citando Louis Vax, "a fera é o aspecto de nós próprios que recusa a prudência, a justiça e a caridade, tudo virtudes que fazem dos homens seres racionais agrupados numa comunidade". Talvez por possuir este aspecto menos humano, Frank não apresente indecisões ao longo da trama. Como exemplo, em nenhum momento Frank se arrepende de ter compactuado com os cenobitas, embora tenha se transformado em um resto putrefado de homem esquecido durante anos num sotão.

Segue, por fim, a proposição de observarmos se em outros casos, cinematográficos ou literários, o pactuante encontra-se a frente de um dilema ou embarca sem pensar duas vezes na proposta duvidável.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Mefistófeles, Cenobitas e Concepção de Mundo

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Mefisto, o demônio de Fausto, lançando a peste sobre a cidade.

Começando nossas pesquisas sobre as “relações fáusticas”, no último domingo escolhemos assistir dois filmes: o Fausto (1926) de Murnau e Hellraiser (1987) de Clive Barker. Em ambos os filmes acontece o que é aparentemente elemento mais básico (ou mais comum) desse tipo de relação: o pacto com uma entidade sobrenatural. Na obra de Murnau, um erudito que sente que seu conhecimento é incapaz de ajudar sua cidade, que é devorada por uma peste, invoca o demônio Mefisto para selar um pacto. Em Hellraiser, um homem que provou todos os prazeres do mundo, insatisfeito, compra um cubo mágico com o qual convoca misteriosas criaturas chamadas cenobitas para, selando um certo tipo de acordo, atingir prazeres inimagináveis.


Mesmo com tão poucas características, já podemos ver fortes diferenças entre os filmes. O demônio de Fausto têm nome e aparência conhecidos e, apesar de estar numa obra moderna, está inserido numa longa tradição onde o Inferno (assim como seus tormentos e suas “regras”) é bem compreendido pelo homem, apesar de temido. Os seres de Hellraiser não tem nome, a não ser o genérico “cenobitas”, além disso, o jeito que estabelecem seus pactos é confuso (jamais se revela o real funcionamento do “cubo mágico”) e o que têm a oferecer é desconhecido ao homem. Qual a razão? Podemos ter algumas hipóteses, das quais me proponho expor uma. A partir da Idade Moderna com as descobertas científicas, o homem passou a ter diante de si um mundo que não era mais inserido numa cosmologia organizada como era na Antigüidade e na Idade Média, mas imenso, com regras ainda a ser (possivelmente) descobertas. Surgiu com força a idéia do Desconhecido, que só ampliou-se com o avançar da modernidade.


Talvez essa seja a diferença: Mefisto, por mais que possa melhorar, em algumas versões do mito, o conhecimento insuficiente de Fausto, (o que também pode estar ligado a essa idéia de incerteza da modernidade, diante do qual o homem sente-se incapaz) é, por si mesmo, um ser incluído em uma cosmologia pré-definida, já os cenobitas são, em si, aquilo que não pode compreendido e, talvez, fruto de uma concepção de mundo que concebe o Desconhecido como um valor a ser reconhecido e representado, nem que seja pelo horror que ele causa.


TADEU COSTA ANDRADE,
é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP

domingo, 20 de janeiro de 2008

Exploração do tema Fantasia por ilustradores.

Olá a todos


Como minha primeira postagem no blog Fabulário, trago um link para agradar os olhos e alimentar a imaginação.
Este mês, o blog Teima no Tema, reduto de ilustradores que buscam um estimulo para pesquisas, experimentações e brincadeiras nas horas vagas, estará com o tema Fantasia e Ficção Cientifica.
O blog teve inicio com os ilustradores Edde Wagner, Bruna Brito e Roger Cruzque reuniram outros artistas para criar em cima de temas que são propostos regularmente.
A comunidade foi crescendo com o tempo, e hoje artistas espalhados por ai se reúnem “Um por todos, e todos por um tema” citando o subtítulo do site.
É interessante ver os diferentes tratamentos e assuntos que surgem a partir da mão de talentosos ilustradores. Um dado interessante é que a lista não é fechada e se você tiver um trabalho legal e imaginação vai encontrar um lugar ideal pra tocar experiência, fortalecer laços e também uma alfinetada te chamando para criar!
O TNTema, para os mais íntimos, que hoje é administrado por Roger Cruz e Bruna Brito tem ao mês cerca de 1.990 hits. Graças a sua lista de colaboradores e suas produções.



Abraços, e boa diversão.


(ao lado a minha contribuição para o Tntema, o "Duende Folgado")


Diogo Nogueira
é Designer Gráfico
e ilustrador, estudante
de Artes Pláticas no
Unicentro Belas Artes

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Inércia

Inércia, curta metragem

No último post deste Blog, o Tadeu já anunciou que a edição #2 do Fabulário vai ter um tema: relações fáusticas. Como uma de nossas motivações ele apontou o artigo de Filipi Andrade, para a edição #1.

Outra influência para a escolha esteve em nossa viagem a Ilha Comprida, na Mostra de Curta Metragem Fantástico. Um dos filmes, muito aguardado por nós (especialmente por mim e pelo tadeu, tenho certeza) foi Inércia, que supostamente envolvia um pacto com o Demônio.

Um filme sem dúvida origina, seja na linguagem cinematográfica, seja no enredo.

Para quem tiver uma conexão melhorzinha, vale a pena assitir no site oficial da produção, em melhor resolução. Colocamos o filme, mais leve, a disposição logo abaixo.


Inércia parte 1:


Inércia parte 2:


Agradeço a equipe e produção do Inércia e a JSnet, por disponibilizar o filme para assistir na web! Muito bom!

link para o site oficial do curta:
http://jsnet.com.br/inercia/



LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes


quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Fabulário #2 - Relações Faústicas

Já começou o processo de produção do Fabulário número dois. Desta vez, optamos por fazer um fanzine temático e, ao que tudo indica, seguiremos essa linha de agora em diante, nos outros números.

O tema escolhido foi "relações fáusticas", do qual uma das inspirações foi certamente o artigo sobre o assunto do nosso colaborador Filipi Andrade no Fabulário #1. A idéia é explorar todas as possibilidades que oferece o tema, partindo sim do famoso pacto demoníaco feito por Fausto, mas tentando atingir os possíveis desdobramentos desta relação, que pode ir além de "uma história em que um homem associa-se ao demônio".

Ainda não existe data prevista para o lançamento do novo número, no entanto, enquanto isso, acompanhando nossas pesquisas, colocaremos aqui alguns posts sobre o assunto.

TADEU COSTA ANDRADE,
é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Raio X - Fabulário Fanzine #1

Ilustríssimos amigos! Quase desaparecemos tragados pelas festas de fim de ano! Mas ainda estamos aqui! E prontos para começar 2008 com tudo!
Fabulário Ed 1

FABULÁRIO #1 - 20pgs

Editorial: Motivação, escritores, expediente.

Da arte de Contar Verdades: por Paula Betereli, resenha do livro de Italo Calvino, Cidades Invísiveis.

Fábulas: por Tadeu Costa Andrade, introdução e contextualização sobre as fábulas de Esopo.
Os Bens e os Males: 1° Fábula de Esopo, traduzida diretamente do grego arcaico por Tadeu Costa Andrade. A tradução é seguida por uma releitura, também de Tadeu.
O vendedor de estátuas: Segunda Fábula de Esopo. Tradução do grego arcaico e releitura, por Tadeu Costa Andrade.

Ela...: história curta com ares infantis e macabros. Por Joyce Nicioli.

O grande criador de Pactos, o Diabo: revisão panorâmica das grandes obras da literatura sobre o tema, por Filipi Andrade.

Lucas não lembra da Infância (Da chagada de João):
primeira parte do Folhetim de Paula Betereli.

Ensaio sobre a Longevidade:
escrito por um morto-vivo, neste ensaio bem humorado Rafael Castro explora o melhor lado do seu estilo de escrita. Apela para o bom-humor sem deixar de lado reflexões pertinentes. (!)

Boticário: conto inspirado pela antologia Ficção de Polpa enotadamente por propagandas televisivas. Por Luiz Pires.

Quadrinho: criação coletiva dos membros. Simples, curta, sem título - em verdade, gosto de pensar nela como um prolongamento do nosso editorial.


Como Adquirir!?

O Fazine Fabulário pode ser adquirido pelo correio, pelo valor de 3 REAIS (forma de pagamento a combinar). Basta enviar um e-mail com o pedido e o seu endereço para: fabulariozine@gmail.com

Também é possivel comprar diretamente com os membros, pelo preço de 1 REAL. Para saber nosso paredeiro (em eventos, palestras etc.) basta acompanhar o BLOG ou mandar um e-mail para o mesmo endereço.



LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes