quarta-feira, 30 de julho de 2008

IV FANTASPOA – Sim, ele chegou!

Mais um festival de cinema fantástico se inicia e mais uma vez eu lamento por não estar lá. Desta vez, Porto Alegre é a sede de uma das maiores mostra de cinema fantástico do Brasil: IV FANTASPOA. Embora não estejamos presentes, o Fanzine Fabulário edição #01 estará à venda junto com o material da mostra.
Quem esteve na abertura (28 de julho) pôde conferir a Premiere de Mangue Negro, longa metragem de Rodrigo Aragão seguido de debate com o diretor e com os membros da equipe. O festival segue repleto de exibições e atividades até o dia 10 de julho. Confira os destaques logo abaixo:

COMPETIÇÃO INTERNACIONAL
42 filmes independentes de 12 diferentes países são postos a prova da banca de jurados composta por Pablo Sapero, Rodrigo Aragão e Marcelo Carrard. Seguem meus palpites...

- Dead Noon (USA, 2007) é um filme de horror faroeste com tudo que tem direito: tiros pra todo lado, cowboys zumbis, demônios do 7º círculo e, o que não podia faltar, um fora da lei pactário do diabo! Se eu fosse do juri era primeiro lugar na certa!

- Nevermore (Alemanha/Dinamarca, 2006) só perderia o primeiro lugar porque o concorrente é faroeste! Primeiro longa metragem de Toke Constantin Hebbeln (guardem esse nome!) já participou de diversos Mostras e Festivais, inclusive da 30º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e ganhou diversos prêmios. A história é tocante e a fotografia magistral.

- Filmatrom (Argentina, 2007), película de nossos vizinhos territoriais, é baseado no livro 1984, de George Orwell. Um grupo de jovens se rebela contra o Estado autoritário e decide fazer, clandestinamente, um filme de ficção científica.

CURTAS-METRAGENS
Do intenso programa de curtas são destaque as sessões de Programa Convidado, em que filmes de outras mostras de cinema são única sessão. São eles: Estranhamente Curtos; do Clermont-Ferrand, o maior festival de curtas do mundo; Macabro (do México); e Rojo Sangre, da Argentina.

As mostras competitivas de Animação, Nacional e Live-Action também estão imperdíveis. Lote sua agenda de curtas!

BRASIL FANTÁSTICO
A programação se destaca por trazer a pré-estréia do aguardado filme de Mojica Marins: A Encarnação do Demônio, o filme nacional prometido do ano. Para quem gosta de horror independente, A Capital dos Mortos, de Tiago Belotti também estará sendo exibido durante o Festival.

MOSTRA DE DOCUMENTÁRIOS
Para os apreciadores da arte do "doc", esta mostra é um prato cheio e variado. Se destacam os filmes do alemão M. A. Littler cujos temas dialogam com o universo fantástico. A sessão de Vodoo Rythm será comentada por André Kleinert e pelos integrantes da banda Damn Laser Vampires, falando sobre o rock independente e sua relação com o cinema de horror independente.

FANTÁSTICO MUNDO ANIMADO
Nesta mostra competitiva, entre animações espanholas e americanas, será exibido um longa africano feito a partir de sucata e um longa húngaro de computação gráfica, além de um anime inédito no Brasil. Para “animadores e animados” não perderem por nada.

PALESTRAS
Ah... esta parte muito me agrada! Quem sabe não rola depois umas gravações no YouTube? Segue a agenda de palestras para o Fantaspoa:

2 de agosto às 11h - Horror argentino com Pablo Sapere, diretor do festival Buenos Aires Rojo Sangre.

3 de agosto às 11h - Debate sobre a criação e produção do longa-metragem Encarnação do Demônio, com o roteirista Dennison Ramalho.

9 de agosto às 11h - A história do cinema ciberpunk, com Rodolfo Rorato Londero, que estará no Fantaspoa lançando o livro organizado por ele e Edgar Cézar Nolasco: Volta ao mundo da ficção científica (Campo Grande, Editora UFMS, 2007).

10 de agosto às 11h - Os caminhos do cinema de horror independente no Brasil, com Felipe Guerra e Peter Baiestorf.

À venda no Fantaspoa!

O Fanzine Fabulário #01 estará à venda durante o evento junto dos materiais da mostra por apenas 1 REAL.

Você pode saber mais sobre o conteúdo desta edição clicando aqui.

Fanzine Fabulário #01
20 páginas
R$ 1,00

É... acho que é isso! Fim!
Ah! E agradecemos ao João Fleck, diretor da mostra, pelo apoio na venda do Fabulário Fanzine!

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Fantasticon 2008 - Parte 3 (Final)

Encerrando meus relatos do Fantasticon, as duas palestras mais loucas e intensas que fecharam aquele domingo, dia 6 de julho de 2008:


Mesa 5 - "Vida louca, vida intensa – uma viagem pela ficção científica de William S. Burroughs"

É quase uma infelicidade que Bráulio Tavares, nesses dois anos de Fantasticon, tenha vindo sempre a se apresentar como embaixador do Mainstream no Fandom e vice-versa. Se você não está familiarizado com os termos Mainstream e Fandom, não perca seu tempo procurando... não vale a pena. Ao invés disso, leia um pouco mais sobre Bráulio Tavares, esse multi-homem da cultura nacional que é escritor, roteirista, compositor e muito mais coisas.

O próprio Bráulio Tavares por vezes demonstrou não se preocupar com essa separação. Mas uma vez em Roma, ele deve ter pensado, fale como os Romanos.
Nessa visão de mediador, Bráulio trouxe para o Fantasticon um autor pouco comentado entre os leitores, admiradores e produtores de ficção-científica e geralmente enxergado junto a geração beat: William S. Burroughs. A palestra se concentrou em trazer ao conhecimento alguns fatos biográficos, curiosidades da construção de sua obra e em relacioná-lo a outros autores da FC mais conhecidos. Foram eles Philip José Farmer, Samuel Delany e Philip K.Dick.

Devo admitir, com penosidade, que pouco ficou para mim sobre a literatura de Burroughs (em grande parte por não estar muito acostumado com os autores comparados). Retive mais sobre a literatura de Philip K. Dick (em parte devido a um grande interesse por esse autor) e no contexto em que Delany estava inserido. Claro, numa coisa o título da palestra estava seguro arespeito de Burroughs: Vida louca, vida intensa – e todos saíram sem dúvidas quanto a isso.

A exposição de Tavares foi uma das mais ricas do Fantasticon, sem dúvida alguma (senão a mais rica). E não é à toa: Bráulio Tavares é “o cara”. Para conhecer mais sobre ele, eu indico a sua coluna no Cronópios e o blog onde ele publica antigos textos seus publicados no Jornal da Paraíba, o Mundo Fantasmo.


Mesa 6 - Um olhar sobre a Literatura Fantástica atual

Com a dupla Fábio Fernandes e Jacques Barcia e também a participação especial de Guilherme Kujawski (do itaulab), e Sérgio Kulpas (do webinsider). Foi uma mesa “estranha com gente esquisita”, no melhor sentido!

Fábio Fernandes não tentou conter a empolgação e falou pelos cotovelos, citando dezenas de nomes, livros, gêneros! A isso, coube a Jacques Barcia tentar organizar um pouco a bagunça dos “estilos” que estavam em questão. Guilherme Kujawski e Sérgio Kulpas engrandeceram a mesa com algumas impressões pessoais bastante ricas. Talvez você já tenha percebido nesses dois parágrafos: a mesa foi uma loucura!

Para nossa sorte, o Fernando Trevisan preparou um relato minucioso onde dissecou grande parte das referências, autores e títulos citados na mesa. Você pode ler esse relato aqui.

A animação da mesa foi contagiante. O Fábio, especialmente ele, pautou seu discurso num ideal de expansão e globalização da leitura e escrita de ficção científica e fantasia. Nesse sentido ele encabeça, ao lado de Barcia, dois projetos com esse intuito: a revista digital Kalíopes; e o site Terra Incógnita (que ainda está no forno).

Mas ficou um gosto estranho no final. Uma sensação de confiança excessiva nos meios digitais, na internet. Uma impressão até mesmo de subordinação às discussões e conquistas travadas e obtidas no exterior. Vamos torcer para que seja só uma impressão.

No final, o Fantasticon teve saldo positivo. Positivíssimo! Saímos com mais questões e “coceiras” do que entramos! Ano que vem tem mais! E tudo conspira para que seja melhor.

LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Fantasticon 2008 - Parte 2

Em dada altura do Fantasticon, tive que me retirar para dar uma força aos amigos da Confraria das Idéias, ong da qual participo e que estava com diversas atividades do 16° EIRPG. Com isso perdi a palestra sobre cinema, que queria muito ver, com a Vivi Amaral da Mostra Curta Fantástico.

Moya e Gonçalo
Mesa 3 - Os Monstros na Literatura Fantástica

(Ok, eu não estive realmente nessa mesa. A Carolina fez algumas gravações em vídeo para mim e eu assiti aqui em casa depois).
Basicamente, a mesa foi uma apresentação do livro “Enciclopédia dos Monstros” de Gonçalo Júnior. Pelo discurso e pelos causos relacionados ficou claro que houve grande esmero no trabalho – e decisões acertadas sobre o que tinha que ficar de fora. O livro é muito bem diagramado, muito bem diagramado mesmo!, com um estilo que cai, pelo bem ou pelo mal, numa cara meio “super-interessante”, meio infográfico (essa parte fica a cargo de Osmane Garcia Filho, ao qual Gonçalo não poupou os louros).

Tudo indica que é um ótimo livro para colecionadores e um livro referência para pesquisadores e produtores: seja de literatura, quadrinhos, ilustração, cinema ou qualquer outra mídia. Ricamente ilustrado e com uma profusão de referências.

A mesa também contou com um convidado ilustre, Álvaro de Moya, decano do quadrinho brasileiro e personalidade internacional. Nós que nem o conhecíamos ficamos boquiabertos...

Tavares, Linaress, Ginway e Calife
Mesa 4 - Visão Alienígena: Outros Olhares da Literatura Fantástica Brasileira

Na realidade, podemos colocar essa mesa no hall das mesas com nomes pretenciosos que não chegaram lá (me refiro aqui ao nome "visões alienígenas"). Ainda assim, foi uma conversa bastante interessante e um encontro muito agradável e proveitoso.

Foi a primeira mesa que vimos no domingo. Infelizmente não contou com a presença do jornalista e escritor (e asmigo nosso) Sérgio Pereira Couto, que poderia colaborar um pouco para essa dita “visão alienígena”. Ficaram na mesa Alexandre Linares, editor que teve relação especial com quadrinhos de ficção científica, mas que é admirador de longa data dos gêneros fantásticos; e Elizabeth Ginway, professora universitária norte-americana de literatura brasileira.

Ginway vem desenvolvendo, já há algum tempo, uma pesquisa sobre a ficção-científica no Brasil, o que a aproximou dos autores que escrevem atualmente no Brasil. Essa aproximação ajudou a deixar sua pesquisa pouquíssimo “alienígena” e muito territorializada, sim senhor. Linares agiu quase que como um mediador, apresentando o trabalho de Ginway, mas fez colocações muito diversas e pertinentes.

Na minha opinião, e vejam que é apenas minha opinião, Ginway foi o lado racional, acadêmico, teórico da mesa e Linares seu lado mais sensível, “antenado”, com colacações mais instigantes e menos “enciclopédicas”. A parte disso, a pesquisa de Ginway bota ordem em anos de ficção científica no Brasil – e ressalta características muito relevantes para a compreensão e apreciação do gênero.

Na platéia, que era muito sucinta (e isso me fez pensar se as melhores mesas seriam também as mais vazias), ajudaram a engrandecer a discussão Bráulio Tavares e Jorge Luiz Calife. Uma dica: se vocês ainda não os conhecem, guardem esses nomes porque eles são figuraças.

Vimos ainda mais duas mesas. E há muito o que falar sobre elas! Em breve, na última parte de meu relato!


LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Fantasticon 2008 - Parte 1

Sílvio Alexandre
Sílvio Alexandre, organizador do Fantasticon que abriu todas as mesas
Antes de qualquer consideração sobre o Fantasticon, não vejo como não manifestar minha quase indignação com a escolha da organização das mesas. Elas foram colocadas justapostas, de modo que uma começa, geralmente, uma hora antes do final da anterior. Isso nos obrigou a fazer certas escolhas – algumas delas no escuro, algumas delas "fatais".

Como todo bom crítico deve dar sugestões de melhoria, meu pedido à Organização (aqui representada na figura do excepcional colega Sílvio Alexandre) é que, para os próximos anos, faça uma seleção mais apurada das mesas participantes, reduzinbdo seu número mas privilegiando a experiência do freqüentador e admirador de literatura fantástica – que poderá ver todas as mesas sucessivamente umas às outras.

Claro que uma redução do número de palestrantes contemplados nesse evento (que está apenas em sua 2° edição) poderia também provocar um movimento para o surgimento de um segundo evento para mesas e debates de literatura fantástica. E nós, admiradores e/ou produtores, só teríamos a ganhar.

Segue a isto um relato - não muito breve, é verdade - sobre minha jornada entre as mesas do Fantasticon... (desde a saída atravancada uma hora antes até a conformação e dura e definitiva seleção...)


1a Mesa – Universos Ficionais compartilhados (Transformando Limitações em Triunfos de Enredo)

Essa palestra foi bem legal, só fiquei triste mesmo por Octávio Aragão – criador da Intempol - estar na platéia e não na mesa. A mesa mesmo era composta por representantes (de peso) da equipe de desenvolvimento do Universo Ficcional Taikodom. Entre eles, Gerson Lodi-Ribeiro, um dos grandes escritores de ficção científica (e história alternativa) de sua geração.

Para os que ainda não sabem, Taikodom é um jogo online brasileiro e também uma série de romances e quadrinhos, formando um universo de ficção científica multimídia. Enfim, um universo ficional com vários escritores trabalhando em frentes diferentes.

Como objeto para a discussão, os expositores contaram sobre suas experiências no desenvolvimento do cenário e das ficções que dão suporte ao jogo – como enfrentaram também problemas técnicos do game que tiveram que ser justificados e incorporados na história do universo ficcional. O grosso do cenário foi desenvolvido principalmente pelo Gerson (e compilado no que eles chamam de “bíblias”), mas vários personagens, eventos e detalhes foram sendo acrescentados e desenvolvidos por outros colaboradores.

Abandonei essa mesa, justamente quando as coisas estavam ficando ainda mais interessantes, uma hora antes do final.


Mesa 2 – O Vampiro Antes de Drácula

Proposta bonita essa da Marta Argel e do Humberto Moura Neto, mas não posso dizer que foi uma palestra excepcional. Lembrei-me de um comentário que ouvi certa vez: “fandom mesmo só existe de ficção-científica, os outros...”.

Não querendo desmerecer aqui o trabalho muito bacana dessa dupla: eles conseguiram reunir um bom repertório de histórias e causos, traçando uma cronologia da figura do vampiro a partir do século XVIII de dar inveja em muita gente por aí; mas o público presente não colaborou. Fora as insistentes e cansativas piadas sobre “ser um vampiro” – trocadilhos presentes sempre nesse tipo de mesa e completamente dispensáveis e brochantes. Perdeu-se muito tempo com esse tipo de criancice e os amigos mal tiveram tempo de expôr tudo o que tinham trazido. Uma pena.

Quando público e produtores vão amadurecer, deixar o humor supérfulo de lado e manter conversas mais edificantes? Ponto para FC brasileira, que não alimenta esse tipo de bobeira.
A esperança está no livro deles sobre o tema (com uma boa compilação de contos) que deve ser lançado na Bienal – livre de comentários dispensáveis dos fãs e de piadinhas inoportunas.

Ah! É claro: Marta e Humberto partiram da idéia de que o vampiro - isso que chamamos de vampiro hoje - não é tão antigo como se pensa e que teria nascido na mesma noite que o Frankenstein (em 1818) como uma sátira a figura de Lord Byron. A partir daí, a figura do vampiro se espalhou facilmente pela literatura e pelo teatro, seja no horror/terror seja nas prolíferas sátiras e nas comédias.

Minhas aventuras pelo Fantasticon ainda não acabaram! E para a nossa sorte, as palestras seguintes foram ótimas! Posto mais detalhes dessa jornada em breve...

LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes

terça-feira, 8 de julho de 2008

FLIP 2008 – Densidade à prova



Não que eu esteja duvidando, longe disso. A FLIP é, sem dúvida, um evento dos densos! São muitas mesas, muitos eventos paralelos, muitos preços altos, muito óleo dentro do lendário pastel de 30cm, muita gente circulando pelas desencontradas ruas do centro histórico de Paraty. Nós, munidos dos exemplares do Fabulário #01 e da edição especial do Fabulário em inglês, fomos representar a pequena parcela do que se pode chamar de “off do off” da FLIP. As edições em português esgotaram-se ao final de nossa jornada graças aos visitantes muito receptivos daquele lado do rio (o lado da tenda do telão). Mas quanto ao outro lado....

O jornalista Sérgio Rodrigues, que cobriu o evento em seu blog Todo Prosa, cita a possibilidade do público presente no evento ter diminuído. Dar continuidade a esse tema parece tarefa fácil: altos preços praticados por pousadas e restaurantes devido a aura “chic” do evento. Isso mesmo, “chic”. Parece que a grande graça da FLIP é dar de cara com uma personalidade literária passeando pelas ruas (e, se você for amigo da personalidade em questão, não deixar de comentar isso no seu blog depois!). Ou então figurar na fila para a entrada na tenda dos autores na frente ou atrás de outras personalidades. E, é claro, se você é a própria personalidade, deve obviamente estar escusa deste debate que poderia seguir por enfadonhos parágrafos à frente, mas não vai. Como última prova de fogo, as primeiras moças que abordei para apresentar o Fabulário, ao me ouvirem falar, logo disseram: “Tá vendo como tem gente interessante aqui? Estávamos comentando agora pouco que isso tudo esta parecendo Ipanema, Leblon, Copacabana...”.

Bem, nós fomos a FLIP. Chegamos na segunda-feira e pudemos observar os últimos detalhes da montagem das Tendas, apreciar as ruas quase vazias, visitar Trindade e passear de barquinho. Encontramos ainda na rodoviária duas personalidades, Matheus e Fernanda. O casal, quem diria, não foi para a FLIP, mas nos acompanhou nos passeios turísticos e numa noite num dos bares indicados pelo Delfin na terça-feira (“O pessoal que vem costuma ficar num daqueles bares ali” ele indica. “Qual? O Bar do Che?” pergunto. “Nãaaaaaaao, aqueles ali!” responde indignado apontando dois bares de esquina mais a frente cheios de mesas na rua). Ficamos até a sexta-feira. Não, não ficamos para a mesa do Gaiman. Mas conhecemos duas garotas com interesses em comum que, além de terem escrito uma cartinha pro Gaiman num cybercafé, se dispuseram a entregar Fabulário Special Edition para ele. Terão elas sobrevivido às horas de fila?

Quanto às mesas (e, enfim, a densidade), assistimos a todas sentados do lado de fora do telão. Notamos que os grandes “cabeças” da FLIP ficaram reservados ao fim de semana: Stoppard, Nooteboom, Gaiman, Price. Mas tivemos Schwarz debulhando Dom Casmurro com suas inseparáveis sulfites A4 sendo lidas vorazmente. Ao final, quase não deu a parecer que ele, de fato, havia reinventado a forma de ler e ver Machado.

Na quinta-feira, Roudinesco patinou para responder uma pergunta a respeito da escolha do terrorismo islâmico como exemplo de perversidade contemporânea e não qualquer forma de terrorismo, mas acabou se explicando enfim; Carlos Lyra quase apagou Lorenzo Mammi com tanto carisma e a honestidade daqueles senhores que se deram o direito de falar o que bem entendem; Xico Sá não economizou palavrões (isso sim é “personalidade”), mas Werneck acabou balanceando a mesa que parece ter sido uma das mais apreciadas pelos blogs afora, devido à quebra do padrão flipeano; e, por fim, Zoê Heller, umas das presenças que eu esperava e acabou deixando por desejar, mostra toda a sua elegância inglesa esbanjando arrogância (por sorte havia Inês Pedrosa).

Por uma mudança na programação inicial, pudemos ver as mesas “Formas Breves” e “Ficções”. Na primeira, Rodrigo Naves, que já conhecia no meio das artes plásticas, fala de suas pequenas ficções junto a Modesto Carone e Ingo Schulze. Quanto ao alemão, este já deve ter se cansado de responder perguntas sobre a Alemanha dividida tanto quanto eu cansei de ouví-las. Na segunda, Lucrecia Martel me fez feliz ao dizer que a grande referência de seu cinema é sua propria vivência e Noll foi o escritor de fala mais densa que presenciei. Embora nunca o tenha lido, suas histórias me pareceram igualmente densas.

Como pode ser observado pela densidade de palavras deste post, a FLIP é mesmo um evento denso. A minha única grande dúvida é quanto a densidade do interesse de seus visitantes.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes