terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O Ano Cógnito

terra incognita

Vocês vão ter que nos engolir.

Mas vão gostar.

Assim termina o editorial da 1º edição da revista de ficção científica Terra Incógnita, organizada por Jacques Barcia e Fábio Fernandes e lançada em setembro de 2008. Até agora, são 4 edições que podem ser baixadas gratuitamente (em PDF) no blog. Nomes como Bruce Sterling, Jeffrey Thomas e Charles Stross surgem em entrevistas, contos e artigos. Não faz idéia de quem sejam os caras? Nem mesmo o Sterling? Sem problemas, isto estava na previsão dos ousados editores e só dá mais um motivo para que a revista seja lida. Além dos figurões internacionais, o leitor encontra contos de autores nacionais, alguns bastante inovadores. O que? Leu o conto e não entendeu patavinas? Ótimo. Proferem os editores na 2º edição: A ficção científica no Brasil andou por muito tempo acomodada, dentro de uma zona de conforto crepuscular (uma twilight comfort zone, poderíamos dizer) onde reinaram os contos-clichê, as histórias de viagem no tempo onde alguém sempre viaja para impedir que alguma coisa aconteça, e as velhas histórias de final-surpresa (surpresa que só surpreende quem nunca leu nada do gênero), do tipo ‘e ele era um robô’.

Se isso te pareceu uma espécie de bronca, espere só para ver o próximo: Sim, claro, sabemos que você mostrou um conto a todos os seus amigos, sua namorada, seus pais, seu cachorro e o periquito, e todo mundo disse que era bom. Bem, lamentamos informar, mas Papai Noel e o coelhinho da páscoa não existem. Pois é, leitor incógnito. Se a bronca era direcionada, você acabou levando também. Mas o senhor já é bem grandinho e um bom exercício de interpretação vai te levar além (ou você é o tal cara do periquito?). Páginas e páginas de material literário de qualidade, momentos de diversão e agonia, autores dos quais você nunca ouviu falar mas que são bons pra caramba te aguardam após estes editoriais curtos e grossos. E na 4º Edição, eles nem precisaram dar bronca em ninguém.

Acesse o blog e confira as bordoadas.

Ou, se preferir, baixe diretamente os PDFs aqui:

#01 #02 #03 #04

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A Não-Crítica

Cadernos de Não-Ficção

A Não Editora sempre a surpreender. Vencedora do 15º Prêmio Açorianos de Literatura na categoria Destaque Editora, a Não lança a publicação on-line Cadernos de Não Ficção. A idéia surgiu com a morte recente de David Foster Wallace, escritor norte-americano. Vendo que havia pouco ou quase nada publicado a respeito de Wallace no Brasil, o editor Xerxenesky resolveu unir forças para publicar um dossiê sobre o autor. Estes textos reunidos somados a outros sobre literatura contemporânea compõem o “volume” de quase 90 páginas. Entre os livros resenhados estão: Meridiano Sangrento, deCormac McCarthy; Fools Crow, de James Welch; e um ensaio caprichado sobre Mãos de Cavalo, de Daniel Galera. O projeto gráfico, como sempre, é de deixar muitos impressos no chinelo.

Sugestão: antes de começar a ler, compre um daqueles velhos protetores de tela, porque você não vai querer desgrudar os olhos das colunas virtuais. Ou imprima (“por sua própria conta e risco”).

Versão em pdf.

Ou se você prefere algo mais mimético...

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Crítica morta e enterrada?

Relato da mesa “As Forma de Crítica” do Seminário Rumos Literatura 2007-2008

O Prof. Samuel Titan, na última das mesas do Seminário Rumos Literatura 2007-2008, revela ter ficado irritado quando soube que o seminário ocorreria em dezembro, próximo das festas de fim de ano, crente que poucas pessoas viriam. Para o feliz engano de Titan, a Sala Itaú Cultural de mais de 200 lugares estava quase lotada.

Não pude frequentar todas as mesas. Para começar, cheguei atrasada em Atualidade de Erich Auerbach e, não sei se pelo meu atraso, pelo meu conhecimento vago ou nulo do autor em questão ou pela tradução simultânea em que as vozes bilíngues se misturam numa suave canção de ninar, esta mesa não foi muito proveitosa. Outra mesa, Atualidade de Machado de Assis (não, nem tudo era sobre a atualidade de alguém, embora fosse até pertinente num seminário que se intitula Rumos) foi deveras proveitosa, mas dizer qualquer coisa sobre ela parece chover no molhado diante da fala exuberante do Prof. João Cezar com seu sotaque londrino-carioca. Resta-me, portanto, falar sobre o doloroso assunto que é a crítica literária no Brasil.

A mesa As Formas da Crítica, mediada por Lourival Holanda, reuniu no palco dois críticos literários de peso: Silviano Santiago, do alto dos seus 70 e poucos anos, e Flora Süsskind. Silviano pontuou sua fala com a imagem do crítico-criador, ou seja, o ficcionista que também é crítico e/ou o crítico que também é ficcionista. Segundo Silviano, o mercado pós-moderno de literatura rejeitara a produção do artista-crítico. Atuar nos dois campos seria um tanto constrangedor de se confessar para um professor, por exemplo, mas não para um médico ou para um jogador de futebol (sutil cutucada em alguns). Pensando depois a respeito, não consegui encontrar nenhum caso de professor-crítico-ficcionista-documentarista-ensaista que fosse marginalizado pelo fato.
Pelo contrário: são fartos os casos de professores famosos (e “queridos”) por terem publicado ficções e ensaios. Talvez Santiago traga mágoas de outras eras...

Flora Sussekind levou a conversa a outros rumos. Comparou ficção e ensaio em termos de forma, definindo a relação entre ambos em três casos: o dobro do idêntico, em que ensaio e forma acabam sendo a mesma coisa; antagonismo de formas; e tensão de campos que não se consuma plenamente. Para cada, qual Flora exemplificou pertinentemente com A Novel of Thank You, de Gertrude Stein, Um teto todo seu, de Virginia Woolf e o conto A tarde de um autor, de Fitzgerald. Caberia aqui uns 5 parágrafos para destrinchar estes exemplos, mas vou pular para chegar logo a parte que nos toca.

As perguntas da platéia vieram com força. Houve, de início, um embate entre os palestrantes sobre a ficcionalização da crítica. Flora teimou em aceitar que de fato havia uma nova forma de crítica, a ficcionalizada que, em contraposição ao bom e velho estruturalismo crítico, estaria vigorando de vento em popa, e “em liberdade”, como citado pelo mediador Lourival Holanda. Outras perguntas vieram e deram a Flora a oportunidade de desvelar toda a sua descrença sobre a crítica nacional atual: haveriam pouquíssimos veículos dedicados a fazer crítica de verdade; toda a pauta destes veículos já seria predada (ou pré-dada, na norma antiga), de forma que é possível adivinhar o que vem a frente antes mesmo de abrir o Caderno 2; os correntes jornais acadêmicos seriam mal diagramados e de conteúdo maçante e doloroso; conteúdo publicado na internet se resumiria a uma “ação entre amigos”, pouco especializada e nem sempre pertinente (ops!). Silviano e Flora ressaltaram ainda que no New York Review of Books e na New Yorker ainda era possível encontrar alguns textos bons. Outras questões foram levantadas e ficaram em aberto: existe ainda algum veículo/crítico capaz de lançar um escritor (a la mode do crítico de arte moderna Greenberg, grã-padrinho da arte moderna norte-americana até a chegada da pop-art)? Prêmios vendem livros? As respostas, obviamente, ficaram para uma próxima reencarnação do tema.

O final de mesas de debate como esta sempre me leva a pensar sobre a coexistência do título inicial e os rumos que a conversa (ou desconversa) levou. Neste caso, fica a impressão de que, se algum dia houve alguma forma de crítica que se dê ao respeito, poucos ficaram vivos pra contar a história.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

sábado, 13 de dezembro de 2008

Novo clipe do Metallica é história alternativa com Zumbis...

...Ficção científica e Nostalgia da Gerra Fria. O clipe mistura live-action com efeitos especiais e tem partes em animação. Imperdível, gostando ou não de Metallica (eu, por exemplo, assisti a primeira vez ouvindo outra música).

Para quem quiser conferir no site da Banda (numa qualidade melhor): http://metallica.com/index.asp?item=601688.



LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no Unicentro
Belas Artes

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Breve pós-cobertura da 32º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

O momento já veio e já passou. Mas como a intenção aqui não é simplesmente dar o serviço, vamos ver o que podemos tirar de mais proveitoso da 32º Mostra Internacional de Cinema.

A Mostra, que já está em sua 32º edição, é um momento celebrado por muitos em São Paulo por diversos motivos. Para mim, o primeiro deles é bastante óbvio: por um curto período de tempo, filmes do mundo todo são trazidos para São Paulo. Isso mesmo, do mundo todo. São filmes que nunca chegarão aqui em outro momento e dificilmente você verá circulando novamente. Além destes, há os filmes que estrearão no circuito mais a frente. Para os mais ávidos, esta é a oportunidade de vê-los antes de todo mundo.

Depois de uma maratona de encaixes, filas e mais filas e correrias, consegui ver alguns dos filmes que queria. Destaco primeiramente os que trazem algo que dialoga com alguns interesses do Fabulário e outras minhas: o não-óbvio, fronteiriço, "os mares nunca dantes navegados" (se é que isso pode existir) do fantástico. Vamos a eles:


Fronteira da Alvorada, de Philippe GarrelA Fronteira da Alvorada: o cineasta francês Philippe Garrel faz um filme de muitas faces, em que se destacam as referências à nouvelle vague e ao expressionismo alemão, trazendo também o elemento fantástico. O protagonista François é um fotógrafo que se apaixona por uma atriz com rosto de quase-diva, Carole. O relacionamento dos dois acaba não dando lá muito certo e a mocinha vai parar num manicômio. Após este momento, o filme parece tomar outros rumos. Um tanto perturbado, François se vê de frente a um acontecimento sobrenatural, sofrendo assim de um sentimento Todoroviano:
a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimento aparentemente sobrenatural". Interessante observar que, embora peculiares, os momentos fantásticos - que beiram o delírio, mas ao final revelam ao espectador sua autenticidade de forma quase alegórica - encaixam-se perfeitamente num roteiro predominantemente realista.

Palermo Shooting, do diretor Win WendersPalermo Shooting: O mais novo filme do alemão Win Wenders foi apontado pela crítica especializada como sendo também o pior. De Wenders entendo muito pouco, mas de fato os clichês estão lá, a olho nu. Porém, trazer como referência tão direta os filmes Depois daquele Beijo, de Antonini e o Sétimo Selo, de Bergman é algo no mínimo curioso. Mais curioso que isto é o fato deste filme, assim como o Fronteira da Alvorada, ter como protagonista um fotógrafo. Finn - muito bem sucedido na sua carreira internacional no mundo das artes e da moda - após passar por uma experiência de quase-morte, viaja para Palermo, onde passa a ser perseguido por um misterioso atirador de flechas. Em Depois daquele Beijo o protagonista do filme é um fotógrafo e a fotografia, a "essência do trabalho" nas palavras de Wenders, é o assunto. Em O Sétimo Selo, o protagonista joga xadrez com a morte, que mesmo perdendo o jogo, continua a persegui-lo. Segundo Wenders, a preocupação com a passagem do tempo, a chegada da velhice e, conseqüentemente, o encontro com a morte é o maior tabu no cinema e que talvez, pela temática "ofensiva", o filme tenha sido tão criticado em Cannes. O encontro do protagonista com a morte é um tanto didático, mas representa também um claro acerto de contas.

Duska, de Jos StelingDuska: Jos Steling é conhecido por trazer a tona personagens atípicos, silenciosos, à parte do mundo, como em O Holandês Voador. Neste, o diretor holandês nos faz enfrentar o irritante Duska, um homem atrapalhado (e folgado) que só vem empacar a vida de outro homem (também um tanto atrapalhado), crítico de cinema solitário. Duska é um personagem que está no território do estranho. As ações e escolhas dele e de seu anfitrião (Duska se instala na casa do pobre crítico) não podem ser explicadas pela lógica comum. Não chegam a beirar o absurdo, mas ainda estão longe do real. O filme se move nos silêncios. E o final é esquisitíssimo. Conclusão: se houver a oportunidade de ver, não perca.

Festa da Menina Morta, estréia de Mateus Nachtergaele na direçãoA Festa da Menina Morta: o filme marca a estréia como diretor e roteirista do brasileiro Matheus Nachtergaele, já reconhecido ator de teatro e cinema. Numa comunidade ribeirinha do Amazonas ocorre a Festa da Menina Morta, evento religioso que relembra um suposto milagre ocorrido à 20 anos atrás com o protagonista Santinho. Esta história, porém, se revela aos poucos e não chega a se completar com clareza. O filme segue cercado nesta atmosfera de crendice e certo naturalismo exacerbado, até que a fronteira entre o real, a alucinação e o fantástico se nubla num dos momentos mais ricos do filme. Longe de ser uma crítica a religiosidade brasileira, o filme fica na fronteira entre o retrato fiel e o olhar direcionado. Como jé era esperado, confrontos morais e ousadia no uso da linguagem do cinema pedem um espectador atento, sem pressa - e nem vontade - de chegar a vereditos.


Vi outros filmes especialmente bons nesta mostra que também valem ser lembrados:

Vicky Cristina Barcelona, o acerto de Woody AllenVicky Christina Barcelona: novo filme de Woody Allen conta (literalmente) a história de duas amigas que vão tirar férias em Barcelona. Lá conhecem um clássico latino caliente que, por alguns instantes, parece mudar os rumos da vida de ambas, embora a entonação de voz de um narrador oculto permaneça igualmente sóbria e indiferente. O filme tem um sintonia finíssima e mostra que depois dos insossos Macht Point e Scoop, Woody Allen chegou lá.

Cinzas do Passado Redux, de Wong Kar WayCinzas do Passado Redux: filme remontado, refinalizado graficamente e reduzido do original de 1995 de Wong Kar-Wai. Com enredo fragmentado e intrincado, o filme narra um ano da vida de um misterioso espadachim que vai morar no deserto após a mulher que ele amava ter se casado com seu irmão. Outros personagens igualmente misteriosos vão se somando à história, tendo sempre como ponto em comum alguma relação com este primeiro personagem: um homem e uma mulher que dividem um mesmo corpo; um espadachim quase cego que deseja voltar a sua terra natal; um homem que, após tomar um vinho mágico, perde a memória. Ao desenrolar da história, as peças vão se encaixando e o espectador percebe que o enredo, aparentemente simples, possui muitas faces e arestas.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes